Não há dúvida que o Rio de Janeiro e seu entorno convivem, há muitos anos, numa ambiência das mais violentas guerras urbanas que já se teve notícia na história policial do mundo, onde qualquer um pode ser a próxima vítima, a qualquer hora, em qualquer lugar e onde não há campo de batalha delimitado como nas antigas guerras. Essa é a guerra é urbana que se desenvolve em localidades habitadas, em presença da população civil. Portanto, há risco iminente de vida para todos.
As causas da progressiva demanda criminal provém de problemas estruturais, especialmente a exclusão social, que empurra jovens da periferia e de guetos de morros e favelas para a delinquência; da leniência da lei; do anacronismo da menor idade penal; da falta de controle das armas que circulam em território nacional e a vulnerabilidade de nossas fronteiras e da tragédia do sistema penitenciário, uma verdadeiro contexto de pós-graduação do crime, onde facções do crime ditam as regras de convivência e a barbárie dentro do cárcere, como visto recentemente no Norte e no Nordeste do país.
No nosso estado, segundo dados do ISP (Instituto de Segurança Pública), o número de fuzis apreendidos, nos últimos dez anos, chegou a 2.615. Um montante assustador que demonstra a constante entrada e circulação de armas de guerra em território fluminense. No ano passado chegou-se ao recorde de 371 fuzis apreendidos. Um levantamento feito em quatro emergências de grandes hospitais, pela Secretaria Municipal de Saúde, mostra também que a cidade do Rio de Janeiro tem uma pessoa ferida a tiros a cada 8 horas. Números de guerra.
Policiais, submetidos a uma verdadeira chacina em conta-gotas, e a população civil são, portanto, as vítimas em potencial de uma violência de caráter permanente onde o grau de ousadia e letalidade do banditismo impressionam. O pior é que não há solução, a curto e médio prazos, onde a polícia sozinha permanece enxugando gelo, com enorme carência de recursos humanos e materiais.
As medidas de contenção policial são apenas paliativas para um problema maior que é estrutural, multifacetado. Os traumas consequentes da violência e a síndrome do pânico, pelo temor ao crime, são doenças psicológicas crescentes. Sem nenhuma dúvida.