“As Olimpíadas vão passar, e eu vou ficar”. Foi assim, de forma categórica, que o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, respondeu a uma pergunta sobre sua permanência no cargo em meio à crise financeira do estado que, segundo ele mesmo, vem causando forte impacto em sua pasta. Beltrame admitiu que os atrasos nos pagamentos de salários e do Regime Adicional de Serviço (RAS) desanimam policiais, mas garante que nada atrapalhará a realização do Jogos, nem mesmo uma má notícia que disse ter recebido há poucos dias do governo federal: “Eu esperava receber nove mil homens da Força Nacional, mas parece que só mandarão a metade disso. Será um desafio, mas estamos preparados”.
Em entrevista concedida na terça-feira, dia 03 de maio, o secretário comentou vários assuntos. Anunciou, por exemplo, que a população perceberá mais policiamento nas ruas a partir de julho.
DESFALQUE NO REFORÇO
“Já estou trabalhando com a possibilidade de ter (durante os Jogos) menos 50% dos policiais da Força Nacional, o que seriam 4.500 homens. Isso vai comprometer o plano estratégico de segurança das Olimpíadas. Os estados não estão dispostos a dar sua cota. Eu entendo isso. Como a Brigada Militar do Rio Grande do Sul vai ceder seus homens, com os problemas que eles estão enfrentando lá?”
CRISE NA SEGURANÇA
“Não quero mais dinheiro do que o já aprovado no nosso orçamento (contingenciado pela Secretaria estadual de Fazenda, por causa da crise financeira). Essas verbas estavam previstas para o custeio de helicópteros e blindados. Hoje, a maioria deles (12 helicópteros e 21 caveirões) está sem funcionar por falta de manutenção. Até o helicóptero blindado com videomonitoramento e imaginador aéreo (equipamentos acoplados à aeronave que filmam e gravam imagens). Para resolver esse problema de imediato, até porque eles serão necessários durante as Olimpíadas, conseguimos R$ 10 milhões com a Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos (Sesge, do governo federal). Esse dinheiro, mais os R$ 8 milhões que conseguimos com a aplicação do dinheiro que a Alerj nos deu para a construção de UPPs, pode ajudar no conserto de parte desses equipamentos.”
VIAS EXPRESSAS
“A partir da próxima semana, teremos um policiamento exclusivo, com motos, começando pela Linha Amarela (onde, no último fim de semana, Ana Beatriz Frade, de 17 anos, foi morta durante um arrastão). Em 2011, comprei 200 motos, mas, devido à crise, muitas estão com problemas. Vamos botar 20 delas na Linha Amarela depois que saírem da manutenção. Vamos expandir esse patrulhamento a outras vias expressas, à medida que os mecânicos da PM consertarem as motos. A Sesge vai nos ajudar com a compra de peças.”
MORTE NA LINHA AMARELA
“O que me deixou muito sentido, além da morte da jovem Ana Beatriz, lógico, foi que tínhamos uma patrulha lá 30 minutos antes. Além disso, pedimos à SuperVia para fechar um buraco do muro que separa a linha férrea da pista, por onde os bandidos que atacam motoristas fugiam. Pedimos também para que fosse cortado o mato no local, além do conserto das lâmpadas quebradas e queimadas, para melhorar a iluminação (o que foi feito). Veja que tivemos de pedir a diferentes órgãos que fizessem sua parte para proporcionarmos segurança na via. O 3º BPM (Méier) vai manter uma patrulha no ponto onde os criminosos atacaram. A Linha Amarela tem 34 acessos. Teríamos que disponibilizar cem PMs lá.”
DESÂNIMO DA TROPA
“Há um desânimo por parte dos policiais. Se a pessoa não recebe o salário em dia, nem as premiações do sistema de metas da polícia, nem o Regime Adicional de Serviço (RAS), como quer que ela se sinta? Assim são os policiais. Eles estão fragilizados. Nem comida nos centros de ensino há para eles. A polícia trabalha hoje com base no seu profissionalismo, com aquilo que está em seu DNA.”
PROJETO DAS UPPS
“Não é um projeto policial. A polícia não vai educar nem socializar as pessoas. Estou enxugando gelo. Ela está ali para proteger. O que houve com o programa UPP é que a gente tem que mudar e arrumar alternativas. A primeira UPP tem oito anos. A população, silenciosamente, quer o programa. Houve uma mudança de comando na criminalidade por causa das prisões dos chefes, e agora vemos adolescentes, a mando dos criminosos em presídios, tentando retomar os pontos de drogas para manter o comércio ilegal. Não temos que acabar com a droga. Temos que evitar que eles andem armados. O problema é que esses menores não têm compromisso com a vida.”
PERMANÊNCIA NO CARGO
“As Olimpíadas vão passar, e eu vou ficar. Ainda tenho projetos para tocar à frente da secretaria. Quando eu cumprir isso, aí posso pensar em sair.”
Fonte: Globo