Na manhã de 2 de abril, a TV nos deu conta de que a Polícia havia descoberto um plano da narco-guerrilha brasileira para explodir bombas no Distrito Federal, atingindo forças de segurança penal e instituições públicas federais. Não é algo que se possa estranhar no país que captura a maior quantidade de explosivo convencional com seus criminosos, os quais, para sorte da Polícia, historicamente só empregam seus explosivos para arrombar caixas eletrônicos. Só essa absurda quantidade de insumos para a fabricação de bombas já deveria ser suficiente para que se levasse tal risco à sério.
Ao que parece, o Primeiro Comando da Capital – PCC já havia aventado recorrer às bombas quando, em julho de 2023, pretendeu atacar o ex-juiz Sérgio Moro. Na ocasião, a Polícia Federal, além de rastrear indícios de uma vigilância que tinha o Senador como alvo, localizou em uma casa de Curitiba uma grande quantidade de explosivos, espoletas elétricas, reforçadores e um painel de controle, empregados em detonações comerciais. Contudo, independentemente do que haja motivado alguma procrastinação do ataque ou de seu vazamento para a Polícia, não há como não se ter preocupação com nossa vulnerabilidade frente ao emprego dessa forma de terror, que sequer é a mais incomum ou sofisticada, sendo largamente empregada por criminosos em outras partes da própria América Latina…
No Brasil, embora sabiamente as forças de segurança não tenham o costume de dar publicidade a tais ocorrências, até para não dar margem ao fenômeno da imitação, temos exemplos significativos de toda sorte de ataques envolvendo as mais diversas modalidades de ações com bombas, desde o chamado “terrorismo postal” e os pacotes/encomendas armadilhadas com explosivo até as bombas plantadas diretamente nos locais que se pretenda destruir (ou onde se pretenda atingir alguém em especial), O histórico quantitatívo ainda é muitíssimo mais extenso do que se imagina, e muitíssimo preocupante. Não faz muito tempo, a “moda” lançada num contencioso entre lideranças do crime organizado fluminense era a de assassinar opositores com bombas acionadas por celular. Embora tais detonações espetaculares tenham sido atribuídas pela mídia a especialistas estrangeiros, sabemos que o know-how para a confecção de tais artefatos sofisticados por telecomando existem em qualquer mercado popular ou “camelódromo” de nossas grandes cidades. Será que nossos policiais judiciários, policiais penais e seguranças privados foram convenientemente instruídos para lidar com essa possibilidade de ataque, que é tão possível quanto pode ser provável?
Temer a explosão de bombas não é um exercício de alarmismo vazio. Basta ver a quantidade de explosivos que é capturada junto à criminalidade em nossos grandes centros e pensar o que daria para fazer com essas centenas de quilos de material perigoso. O “modus-operandi” terrorista há muito já faz parte do ideário dos nossos criminosos comuns, e quem poderá dizer o que falta para que eles também adotem corriqueiramente os Artefatos Explosivos Improvisados – AEI, da mesma forma que já fizeram com os fuzis e granadas de mão? O autor torce para que os “nossos” criminosos jamais descubram todo o potencial dos AEI, porém não é possível executar nosso trabalho de forma profissional apenas com o pensamento positivo de que nossos maiores pesadelos jamais se materializarão.
O risco dos ataques com AEI é algo sempre presente. Ainda que em nossas análises de risco vejamos as ocorrências de atentado a bomba como algo, quase sempre, pouco provável, o fato de não tomarmos quaisquer medidas cautelares faz de nós, de nossos dignitários e de nossas instalações um alvo bem mais fácil para essas ações de terrorismo. É difícil conscientizar os encarregados de atuar na segurança, fazendo-os executar procedimentos que buscam fazer frente a ameaças que eles próprios consideram coisa “de filme” ou “que só acontece nos outros países”, porém um bom argumento é mostrar o quão remota seria a possibilidade de que alguém viesse a miniaturizar uma bomba, disfarçando-a num objeto inocente e plantá-la no fórum de uma cidadezinha do interior, como o que aconteceu em Rio Claro, em janeiro de 2012. Da mesma forma, é sempre bom mostrar a nossos profissionais que as informações necessárias para a produção de tais artefatos se encontram livremente disponíveis na internet; isso sem falar no lamentável exemplo de técnicos explosivistas bandeados para o lado do crime. Logo, ninguém pode se imaginar completamente a salvo de ser atingido por tais artefatos. Os seguranças podem até ser um pouco difíceis de convencer, mas se eles realmente acreditarem na possibilidade da ocorrência adversa, certamente se acostumarão a executar os procedimentos estabelecidos para evitá-la.
No âmbito de empresas e instituições, planejamentos contingenciais devem ser estabelecidos (se possível com o auxílio dos especialistas da Polícia local), de forma que, ante ao menor alerta, se possa dar encaminhamento às providências demandadas por situações desse tipo. Assim como os outros procedimentos de emergência, a busca a artefatos explosivos deve ser previamente normatizada e ensaiada, podendo ser executada pelos próprios funcionários, brigadistas de incêndio ou seguranças, desde que instruídos para tal. Os efetivos empregados na busca deverão ser conhecedores dos diferentes locais onde os artefatos possam ser colocados e procurarão prioritariamente quaisquer objetos que estejam “destoando” do ambiente, que possam conter, disfarçar ou se constituir numa bomba (Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado).
Finalizando, sempre se poderá argumentar que a possibilidade de que alguém seja vitimado por uma bomba no Brasil talvez não valha o gasto para se salvaguardar frente a uma ameaça dessa natureza. O autor discorda! A dura realidade é que somos um povo reativo e que tem grande dificuldade de aprender com experiências que não as suas próprias. Assim sendo, considerando que, a despeito de todo uma histórico de ocorrências de bombas, não colocamos “a tranca na porta”, nem depois desses “arrombamentos” explosivos, a tendência é que ocorrências, quando acontecerem, continuem vitimando inocentes e desavisados cada vez que, infelizmente, vierem a se repetir. Como os britânicos, espanhóis, colombianos e inúmeros profissionais muçulmanos aprenderam a duras penas, não se deve deixar de lembrar o perigo que os artefatos explosivos representam, ensinando os cidadãos e seguranças a identificá-los e como agir em caso de se depararem como uma situação em que uma bomba ou objeto suspeito estejam presentes.
Crédito da Imagem: Foto_Marcos_Oliveira-Agencia_Senado.