Um fuzil de assalto, arma de guerra concebida pelos alemães na II Guerra Mundial, através do Sturmgewehr 44, custa para o narconegócio, entre R$ 60.000,00 e R$ 90.000,00, e uma pistola entre R$ 6.000,00 a R$ 10.000,00.
O estado do Rio de Janeiro tem 1.332 favelas, de acordo com o censo do IBGE de 2010. Considere que menos da metade dessas áreas tem narcotráfico e seu braço armado, a narcoguerrilha, digamos 500 comunidades. Se cada uma tiver em média 10 fuzis chegamos ao número de 5.000 fuzis, e se para cada fuzil tendo 4 pistolas, temos 20.000 pistolas. Considerando os valores médios para o fuzil, R$ 75.000,00 e para pistola, R$ 8.000,00, temos um gasto, da ordem de R$ 375.000.000,00 em fuzis, e R$ 160.000.000,00 em pistolas, totalizando R$ 535.000.000,00 (quinhentos e trinta e cinco milhões de reais), em armas, isto estimado para baixo. E não contabilizamos os milhões de cartuchos de munições para esse arsenal.
Vasco da Gama nas Índias
Lembremos da lendária expedição de Vasco da Gama às Índias, no final do século XV, na qual negociaram com o samorim de Calicute, e acredita-se que essa viagem rendeu a Portugal um lucro de 6.000%, referência histórica em rendimento:
“[…] os produtores primários sul-americanos vendem o quilo de coca por 1,2 a 3 dólares. No mercado consumidor norte-americano, o quilo da cocaína, no varejo, com 65% de pureza, chega a custar 100 mil dólares[…]” (Marcelo Lopes de Souza apud Alessandro Visacro, 2017. p. 308). Considerando estes valores, temos que o lucro do narconegócio em cada quilo de cocaína é de 99.997 dólares, rendendo os impressionantes 3.333.233%.
Concatenando as informações acima temos que o narconegócio gastou em armas meio bilhão de reais, e tem um lucro de três milhões por cento. Se um “negócio” investe em “proteção” este valor, e tem tamanha rentabilidade, qual o seu “faturamento” anual? E com essa capacidade econômica quem pode ser influenciado para favorecer essa atividade criminosa organizada?
O sofisma de Sherwood
Robin Hood é um herói mítico inglês, um fora-da-lei que roubava dos ricos para dar aos pobres, que teria vivido no século XII, nos tempos do Rei Ricardo Coração de Leão, e das grandes Cruzadas. Era um mestre no arco e flecha e vivia na floresta de Sherwood, onde era ajudado por um bando de amigos. Ele prezava a justiça, a honra, a liberdade, a igualdade entre os homens, a vida ao ar livre, e o espírito aventureiro. Ficou imortalizado como o príncipe dos ladrões.
Algumas pessoas, na melhor das hipóteses, imaginam que a realidade dos moradores das comunidades do Rio de Janeiro é a da floresta de Robin Hood, a famosa Sherwood, mas na verdade o cidadão de bem que reside nesses locais, vive sem cidadania, pois não tem liberdade, nem integridade física/mental/moral, nem patrimônio, nem vida, que não dependam da aquiescência volúvel dos narcoguerrilheiros que dominam a favela. Quem residiu, reside ou patrulhou nessas áreas, viu, conheceu ou experimentou o completo desrespeito e violação de qualquer dignidade humana, pelos soldados do narconegócio, invadindo casas, expulsando moradores, estuprando meninas e mulheres, espancando, torturando e matando quem ousa discordar ou questionar seus métodos e decisões. Essas falácias de criminosos bondosos, no melhor estilo Robin Hood, vivendo, respeitando e protegendo os moradores de seus enclaves, é o sofisma de Sherwood.
Esse caldo de narconegócio de altíssima rentabilidade e capacidade corruptora, dotado de meios bélicos abundantes, aliado ao sofisma de Sherwood e a bandidolatria, formam um exército de narcoguerrilheiros que mantém a região metropolitana do Rio de Janeiro em estado de guerra.
A ADPF 635 e a operação na Vila Cruzeiro
A ADPF (Ação de Descumprimento de Preceito Fundamental) 635, na prática, cria zonas geográficas, que coincidem com os enclaves do narconegócio, onde a atuação das Polícias é dificultada, deixando as pessoas que moram nelas, ainda mais a mercê do crime e da arbitrariedade absolutas e sem controle, a dos narcoguerrilheiros. Deixe uma parte do seu organismo sem que as defesas biológicas possam atuar livremente, e veja o que acontece.
As operações como as de ontem, na Vila Cruzeiro, eram para, dentro da normalidade, ter apenas criminosos presos, ou fugindo, sem confrontar as Polícias com armas de guerra. As torres de marfim e as bolhas assépticas dos ambientes acadêmicos e judiciários, por vezes estão tão distantes da realidade, que entregam a vida, a liberdade, a dignidade e a propriedade de cidadãos a barbárie. Alguém que lê este artigo gostaria que as Polícias fossem dificultadas de patrulhar e operar nas ruas onde mora? O que aconteceria com sua casa ou apartamento, e a vizinhança? Respostas sinceras dissipam os véus e permitem ver a realidade.
Autor: Cel PM RR Cajueiro