O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ministro Gilmar Mendes, em recente encontro no Rio, em 16 de setembro último, em que se discutia, com autoridades federais e estaduais, a questão do planejamento para as eleições municipais de outubro, disse com todas as letras o que ninguém pode contrastar: “A segurança no Rio de Janeiro é uma das mais graves do mundo”. Sua excelência sabia o que estava dizendo e não surpreendeu a ninguém. Constatou o óbvio. Ou seja, não estamos muito longe de populações que sofrem os efeitos de graves e duradouras guerras, num estado em que anualmente ocorrem cerca de 5 mil homicídios.
Balas perdidas, assaltos em vias públicas, gangues de delinquentes mirins em circulação, menores inimputáveis, tiroteios a qualquer hora do dia e da noite, ataques a policiais em UPPs, policiais mortos e feridos, roubos de celulares, assaltos em ônibus, temor ao crime, ônibus incendiados, execuções em vias públicas, população sobressaltada, tribunais de julgamento e execução do tráfico, guerras ente facções, aulas suspensas em razão da violência.
Enfim, um festival de casos de violência que gera o temor permanente ao crime, na incômoda pergunta de quem será a próxima vítima. Ou seja, Sua Excelência o ministro Gilmar Mendes estava absolutamente correto em suas declarações sobre a guerra do Rio de Janeiro, que somente este ano ceifou a vida de mais de 70 (setenta) policiais militares, ferindo mais de 300 (trezentos), numa autêntica chacina em conta-gotas onde nos últimos vinte anos mais de 1.500 policiais, entre civis e militares, sucumbiram no estado. Números de guerra.
Registre-se que mesmo com a presença maciça das forças de segurança, federais, estaduais e municipais, durante o período das Olimpíadas, os números do crime subiram assustadoramente no Rio e em todo o estado em quase todos os tipos de delito, comparativamente ao mesmo período de 2015, de acordo com os dados do Instituto de Segurança Pública (ISP). Os homicídios subiram 16% na capital e o crescimento dos registros de roubos em ônibus foi de 92% em todo o estado e de 80% no Rio. No município os roubos de veículos tiveram um acréscimo de 15% e os ataques de ladrões a transeuntes cresceram 39%. Não precisa constatar mais nada. Os números não mentem ainda que a totalidade de pequenos delitos não cheguem nem a conhecimento das autoridades para registro.
A guerra do Rio é, pois, de caráter permanente e sem solução aparente, onde a demanda criminal é maior do que as estratégias de contenção policial. Constate-se que a polícia não é onipresente e constitui apenas parte da engrenagem de defesa social onde a grave questão tem que ser vista de forma multifacetária, sistêmica. A polícia apenas enxuga gelo não podendo interferir na leniência da lei penal, na falência do sistema penitenciário, nas consequências da exclusão e da desigualdade social e no grande número de armas irregulares em circulação, que continuam que penetrando pelas fronteiras e chegando em morros e favelas. A última e incômoda pergunta que fica é: quem será a próxima vítima? Por enquanto, realisticamente, a única certeza é que a guerra urbana prosseguirá, pelo visto sem solução.