O maior debate que decorre no seio do Turismo tem a ver com o que se costuma designar por “Turismo Sustentável”. Na verdade, não só não há uma só definição de tal conceito e ainda menos pessoas têm a certeza quanto a como o aplicar. Além disso, tem sido tão usado que perdeu qualquer sentido próprio. Muitas vezes, embora não sempre, o debate sobre o “Turismo Sustentável” fica centrado na noção de “Turismo de Massas”, um outro conceito sem uma definição precisa. A literatura técnica está repleta de questões como:
- Quantos turistas são demais?
- As aglomerações devidas ao turismo de massa ameaçam o ambiente turístico?
- Turistas a mais, ou a menos, resultarão em desafios sociais e econômicos que desagregarão as bases das atividades turísticas?
Podemos designar o oposto do Turismo de Massas por Turismo Boutique. Mais uma vez, existem definições muito diferentes de Turismo Boutique, bem como da respetiva distinção face ao Turismo de Massas. Alguns dos critérios de distinção que encontramos na literatura técnica apontam no sentido do Turismo Boutique ser semelhante ao Turismo de Nichos, por também estar presente em atividades específicas, tais como o turismo cultural, o ambiental, o educativo ou o médico. Outros autores argumentam no sentido do Turismo Boutique promover o turismo fora da alta estação. Outros ainda que o Turismo Boutique tende a ser o resultado de uma organização dos clientes, enquanto o Turismo de Massas é vendido como um produto, cujo preço está em função das economias de escala atingidas.
Para o ajudar a decidir qual dos dois melhor serve ao seu destino, ou se ambos são adequados, a Tourism Tidbits apresenta várias comparações e ideias no sentido de criar o modelo que melhor se adeque a cada realidade.
Não há dúvida de que o Turismo é um grande negócio e, apesar de todos os problemas que resultam do Terrorismo, está crescendo. Segundo a Página “SustainingTourism” <http://www.sustainabletourism.net>, em 2020 são esperados 1 500 milhões de turistas internacionais, criando mais de 11% de todos os empregos no mundo. Assumindo que estes números possam estar corretos, o impacto ambiental do Turismo será enorme. Aliás, muitos dos destinos turísticos são locais onde a água é escassa, embora quase todos os estudos mostrem que tendemos a usar mais água quando viajamos. Estes números são de grande relevância se levarmos em conta que apenas uma pequena parte (3%) da água que há no mundo é potável, apesar desta cobrir 70% do planeta.
- O Turismo de Massas pode ser caraterizado através de alguns dos seguintes critérios: o Turismo de Massas tende a vender o produto turístico a grandes grupos. Tem a vantagem de os programas turísticos estarem muito normalizados e se centrarem em destinos bem conhecidos. No mundo das compras, os visitantes tendem a ser mais alocêntricos do que psicocêntricos, adquirindo mais recordações do que artigos caros e procurando níveis altos de comodidade. Por exemplo, os produtos do Turismo de Massas facultam visitas na língua dos visitantes e, muitas vezes, promovem bastantes encontros sociais entre estes.
- Por sua vez, os produtos do Turismo Boutique seguem um outro conjunto de critérios. Assim, tendem a centrar-se mais em pequenos grupos, de familiares ou de amigos íntimos. O que permite uma maior espontaneidade na seleção do que visitar e ver. Muitas vezes, o Turismo Boutique procura o incomum e não teme as dificuldades culturais ou linguísticas. Quem está virado para este Turismo tende a evitar grandes aglomerações e compra poucas recordações, antes adquirindo bens de maior valor unitário. Em geral, os turistas boutique procuram as experiências locais, a gastronomia local e os produtos locais. Embora possa ser defendido que o Turismo Boutique tem um impacto reduzido nas culturas locais, será mais rigoroso falar de um impacto “diferente”, porque existe um impacto sempre que duas culturas se encontram. Aliás, enquanto o Turismo de Massas tende a ficar limitado a alguns destinos, o Turismo Boutique é menos “denso”, mais disperso. Sobretudo nos pequenos destinos, ambas as formas de Turismo terão impacto nas culturas locais.
- Um destino não precisa de fazer uma opção por tudo ou nada. Um componente chave de um turismo sustentável passa pela definição da vocação do mesmo e como tal expectativa pode corresponder à realidade. As atividades turísticas não podem nunca esquecer a importância dos habitantes locais, são eles quem votam e, do mesmo modo, são os que constituem a base da mão de obra necessária. Estes trabalhadores locais entram, cada dia, em contato com visitantes oriundos de culturas distinta. Cada tipo de grupo de visitantes representa desafios diferentes. Uma parte essencial do Turismo está em não tentar evitar a mudança, mas, antes, em gerir essa mesma mudança, procurando a harmonia com o ambiente social, cultural e físico do local.
- Use tecnologia para agregar ao seu ambiente e, ao mesmo tempo, para receber bem. Pense nos problemas que o seu destino tem e em como as tecnologias o podem ajudar a lidar com os desafios ambientais. Poderá uma central dessalinizadora ser a fonte de água potável de que precisa? Poderão os resíduos ser reciclados, produzindo combustíveis baratos? Poderá o Sol ser a solução para o aquecimento ou os drones serem usados para substituírem um patrulhamento policial ineficaz? Nenhuma destas soluções é perfeita, mas todas elas, combinadas criativamente, poderão criar empregos e salvaguardar o Turismo.
- Garanta que os residentes compreendem os seus objetivos e aspirações. Algumas populações locais podem ter uma percepção negativa acerca do Turismo. Por isso, é essencial que as pessoas sejam envolvidas nos processos e que entendam qual a ligação entre um bom produto turístico e a sua qualidade de vida. Ninguém quer viver rodeado de lixo, com os ruas esburacadas e uma atmosfera poluída. Estes são fundamentos do Turismo. Ter os residentes do seu lado não só melhorará a situação política como significará que terá um “exército” de sorrisos e de voluntários desejando garantir o sucesso turístico do seu destino.
Dr. Peter Tarlow