Decididamente o Brasil tem uma maneira própria de lidar com questões de segurança, a qual, infelizmente está muito longe daquilo que seria o tecnicamente mais correto. Aqui a gente transforma uma série de temas – dentre eles o Terrorismo – em tabu e finge que eles não existem (ou que o seu perigo será minimizado pelo fato de não tocarmos no assunto), não conscientizamos a população para lidar com eles, não treinamos adequadamente os profissionais que deverão atuar em face de sua ocorrência, e ainda, quando vamos difundir uma informação ou notícia a respeito desses temas, não o fazemos de forma adequada.
Tive a oportunidade de participar no dia 14 de abril do Seminário de Inteligência e Segurança Corporativa, promovido pela Petrobras no Auditório Central do Edise, situado na Avenida República do Chile, nº 65 – 1º andar, Centro, Rio de Janeiro. O evento, com palestrantes de alto nível, abordou a questão do Terrorismo Internacional e os riscos para o Brasil. Ninguém dourou pílula e ficaram mais do que patentes diversas das nossas vulnerabilidades frente a tais ações adversas.
A questão do terrorismo islâmico foi excepcionalmente bem exposta pelo próprio Dr. Luis Alberto Salaberry, Diretor do Departamento de Contraterrorismo da ABIN. No meio de uma seleta plateia de profissionais da esfera da segurança e inteligência, ele alertou que o crescimento da Comunidade Salafista no Brasil, visivelmente influenciada pelas idéias do Califado Islâmico, nos coloca, cada vez mais, não só como palco possível, mas também como alvo de ações do Estado Islâmico e seus simpatizantes. Sem dúvida alguma isso se trata de um quadro sombrio.
Surpreendi-me ao ver no dia seguinte que praticamente o mesmo discurso e exemplos estão estampados nos jornais, com um grau de detalhamento que não creio que seja oportuno citar. Eu não acho que seja bom veicular isso, nesses termos na grande mídia, pois pode motivar um monte de informes falsos: desde garotos que não querem ter aula passando trote, até criminosos comuns em ações diversionistas (para tirar a polícia de perto), todo mundo vai se dizer mobilizado pelo Califado, pra cumprir sua destrutiva missão como aqueles agentes soviéticos adormecidos do filme TELEFONE, do Charles Bronson… E aí, haja lidar com trotes, dos mais simples aos mais rebuscados, informes furados, pistas falsas e por aí vai.
Nós já não temos estrutura para analisar e apurar convenientemente tudo que chega como informe, ainda mais se aparecerem “macacos de imitação” como, num determinado instante, também era o mané de Realengo, antes de se dispor a partir pra ação!
Nós estamos muito longe de estarmos preparados para fazer frente ao terrorismo, e a nossa nova e risível legislação para tipificar tal crime, em nada instrumentaliza as forças de segurança. Com tantas deficiências e vulnerabilidades a difusão de informações dessa forma me parece equivocada e pode vir a se constituir num autêntico tiro no pé!
Acho que a coisa é preocupante mas devíamos fazer os deveres de casa direitinho e guardar certos detalhes só para quem tem necessidade de conhecê-los. Para a população o importante é enfatizar que tais grupos são extremamente perigosos, proporcionar aos cidadãos aconselhamento objetivo para que possam prevenir e lidar com tais incidentes, mas não ir além com informações ou detalhamentos desnecessários.