Há poucos anos o ocidente assistiu a movimentos revolucionários que ficaram conhecidos como “primavera árabe”, que convulsionaram países orientais de língua árabe e que nós, no “lado de cá” do planeta, comemoramos como manifestações de democracia, até porque estes movimentos sofreram forte influência e pressão do ocidente que transmitiu a eles suas ideias e noções sobre democracia e liberdade de pensamento o que pode ter refletido nos eventos e na formação de grupos radicais que optaram pela prática de ações terroristas. Talvez seja oportuno tecer algumas considerações que permitam clarear algumas noções e percepções diferentes entre oriente e ocidente.
A noção de democracia é para os árabes islamizados um decalque do ocidente e não tem nenhum sentido prático. Nesta parte do mundo subsistem estruturas milenares clânicas e um papel abrangente da religião, um estatuto de subordinação da mulher e uma hierarquização do poder, exercido de cima para baixo. O traço fundamental das relações sociais e políticas é a pertença e esta resulta da noção de obediência, fidelidade e subordinação à autoridade do chefe. Isto torna vazia a noção ocidental de cidadania, porque através da pertença e da fidelidade o indivíduo se vê sempre sujeito a outro indivíduo e um grupo está sempre sujeito a outro grupo. Ao observarmos o resultado das revoluções árabes, veremos que elas não mudaram as velhas estruturas que têm como base a família, o clã, a tribo e o exército. São estruturas tribais que ressaltam a tribo, a mesquita, as forças armadas. O povo não é o objetivo, face ao pensamento tribal persistente. As noções inarredáveis são a pertença, a obediência, a fidelidade, a subordinação. Islamita é o que se submete. A noção ocidental de cidadania não faz sentido. As chaves do poder não estão nas mãos dos partidos políticos e sim nas alianças desta organização social que pode assumir formas diferentes de país a país, face às diferentes interpretações da religião islâmica.
Para nós ocidentais, esta organização é de difícil compreensão e o choque entre as visões é quase inevitável, talvez em razão do pouco conhecimento em geral que temos desta organização multimilenária.