Quando pensamos nos riscos de segurança que envolve um estacionamento, talvez os primeiros problemas que nos venham a mente são os roubos ou furtos (de um ou mais veículos), as falsas comunicações de furto (para fraudar um seguro), o furtos de assessórios, danos em veículos provocados por pequenas colisões em manobras ou por atos de vandalismo, incêndios de veículos por pane elétrica, ou mesmo uma incursão para roubo do caixa do estacionamento. Contudo, há mais questões de segurança associadas aos parqueamentos, sobretudo no que tange aos riscos de atentados terroristas.
A vulnerabilidade das áreas de estacionamento as torna objeto de preocupação dos planejadores de segurança, sempre voltados para a perspectiva de ataques contra pontos sensíveis de toda ordem. Em muitos locais, o primeiro acesso às instalações se dá pela entrada do estacionamento e nem sempre o projeto da planta estabelece um distanciamento (ou um isolamento) entre o estacionamento e a edificação (ou edificações) propriamente dita (s). O ideal sempre será o de exteriorizar tais áreas, sobretudo as que digam respeito a veículos não inspecionados (como os de visitantes, por exemplo), contudo isso nem sempre é possível. Há estacionamentos de todo o tipo e o que às vezes se pode prever num complexo industrial ou instalação militar, não é viável no âmbito de um comércio ou mesmo de uma repartição pública. A entrada de veículos, muitas vezes conjugada com o acesso exterior de pedestres, é quase sempre a principal (ou única) área de triagem e a que fornece os maiores obstáculos físicos contra uma entrada não autorizada. Na maioria dos casos, transposta uma simples cancela, corrente ou cavalete, um veículo pode chegar perigosamente próximo de um prédio, de um depósito, de uma estação de energia, favorecendo aos objetivos de quem queira perpetrar um atentado.
Numa conjuntura em que atentados possam ser esperados ou em instalações com maior grau de criticidade, a primeira providência pode ser a de reforçar a segurança perimetral, impedindo uma entrada forçada tanto de veículo quanto por pessoas à pé, em toda volta da área da instalação. O cercamento ou gradeamento pode receber um reforço de concreto na sua base, sendo muitíssimo comum a elevação do meio fio ou a instalação de obstáculos físicos como frades (fixos ou retráteis), jardineiras ou blocos de concreto que impeçam um veículo (mesmo de maiores dimensões, como um caminhão), de forçar a passagem através da barreira circundante.
Arremeter grandes veículos contra cercas, muros não se constitui em novidade. Em abril de 1983, uma pick-up com cerca de 1000kg de explosivo, conduzida por um suicida, rompeu a cancela da entrada da embaixada americana em Beirute, entrou pela garagem do prédio e explodiu em seu interior. A detonação fez ruir o prédio, matando 63 pessoas e ferindo outras 100. Em outubro, um novo ataque, desta vez com um caminhão Mercedes-Benz com seis toneladas de explosivos, aconteceu no aquartelamento da unidade expedicionária de fuzileiros navais americanos, no aeroporto de Beirute. O veículo, também guiado por um motorista suicida, foi conduzido através do perímetro de segurança, investindo contra cavaletes, concertinas múltiplas e barricadas, sob fogo de metralhadoras de dois postos de sentinela, conseguiu chegar dentro do prédio e explodiu. Na explosão, o prédio ruiu e 241 americanos perderam a vida. Em outubro de 2001, na madrugada da zona portuária do Rio de Janeiro, um grupo com mais de trinta criminosos armados, empregou duas carretas como aríetes, jogando os veículos contra uma parede lateral de uma carceragem policial, abrindo um grande buraco pelo que fugiram 14 presos de alta periculosidade. A segurança necessita impedir que se possa forçar um acesso e para isso são empregados obstáculos móveis como cavaletes e concertinas, juntamente com “dentes” de aço com acionamento hidráulico (capazes de parar instantaneamente um caminhão em velocidades de até 60km/h), fossos, obstáculos metálicos cheios de líquido e mesmo cancelas de aço de alta resistência. Há de se pensar em reforçar a guarda armada, sobretudo dotando-a de armamento e munição compatível com a necessidade de incapacitar os veículos e seus ocupantes. Em casos extremos, viaturas militares como blindados de transporte de pessoal, carros de combate ou mesmo grandes caminhões, normalmente com areia molhada, são posicionados transversalmente ao acesso que se queira fechar, sendo movimentados apenas para permitir a passagem de um veículo de cada vez, depois de submetidos uma minuciosa checagem de segurança.
O estabelecimento de um perímetro de segurança ao redor da instalação que se queira proteger é essencial. O caminhão bomba que explodiu o escritório da Organização das Nações Unidas no Iraque, em agosto de 2003, e que vitimou o diplomata brasileiro, Sérgio Vieira de Melo, foi posicionado numa rua lateral ao edifício do Hotel ocupado pela ONU, a menos de cinco metros da fachada, abaixo do escritório do diplomata O veículo de carga estava repleto de munições de artilharia e pelo menos uma bomba de aviação de alto-explosivo de 250kg. A onda de choque resultante da explosão que demoliu uma boa parte do prédio, foi sentida a mais de um quilômetro de distância.
Ainda que terroristas não pretendam forçar passagem pelo acesso principal de veículos de uma instalação, eles podem, discretamente, introduzir um veículo com explosivos no interior da área de parqueamento. Em fevereiro de 2003, uma van com cerca de 700kg de explosivos foi detonada num estacionamento subterrâneo do complexo do World Trade Center em Nova Iorque, no subsolo da Torre Norte, provocando a ruptura da laje em quatro pavimentos do estacionamento e vitimando 6 pessoas. Ao contrário do que pensavam os terroristas, o dano estrutural não foi suficiente para comprometer a estrutura da Torre Norte e fazê-la ruir sobre a Torre Sul. Em abril de 1995, aquele que foi considerado como o mais destrutivo atentado terrorista em solo americano até a destruição das torres gêmeas, ocorreu com a detonação de um pequeno caminhão com mais de duas toneladas de uma poderosa mistura explosiva, no estacionamento a céu aberto de um edifício público em Oklahoma City. A violentíssima explosão vitimou 168 pessoas (incluindo 16 crianças de menos de seis anos de idade) e feriu 680. Oitenta e seis carros estacionados próximos foram completamente destruídos. Houve dano colateral em mais de 300 edificações próximas, com quebra de vidros em 258 prédios. Impedir que um veículo com explosivos possa ser introduzido num estacionamento não é uma tarefa fácil. No Brasil, um veículo com várias bombas explodiu acidentalmente em abril de 1981, no estacionamento do Riocentro. Em março de 2002, traficantes de drogas abandonaram um carro de passeio com razoável quantidade de explosivos comerciais no estacionamento do Fórum Criminal da Barrafunda, em São Paulo e embora o material não estivesse preparado para detonar, foi um claro aviso de que isso poderia ser feito, caso os bandidos assim quisessem.
E como impedir uma situação dessas? Não há fórmula mágica! A detecção de um carro bomba antes de entrar no estacionamento só pode ser possível mediante a uma inspeção minuciosa. Tal vistoria pode ser conduzida por um grande aparelho de Raios X, como os que hoje são empregados na inspeção de containers nos grandes portos; pode ser executada manualmente, com espelhos, endoscópios, lanternas e muita paciência, com um operador treinado; ou ainda com animais farejadores, normalmente cães adestrados. Todas essas medidas são excepcionalmente dispendiosas e só se justificam em face de riscos extremos. Sua adoção obrigatoriamente vai afetar a velocidade do processo de entrada e saída de veículos no estacionamento, acarretar longas filas e atrasos prejudiciais. No caso de um estacionamento de um estabelecimento varejista, tais medidas podem acabar inviabilizando a atividade do ponto de vista comercial. Em julho de 2011 um alerta de suposto carro-bomba no estacionamento do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, mostrou como essa situação pode ser difícil de lidar. A ocorrência dos Jogos Mundiais Militares não permitia que as autoridades desacreditassem do informe, que acabou se revelando falso.
Com esse pequeno texto não pretendo disseminar uma paranóia e propor que adotemos no Brasil toda sorte de procedimentos de segurança que hoje se fazem tremendamente necessários em outros países. Contudo queria dar aos nossos leitores uma idéia de como as coisas podem se tornar extremamente difíceis se tivermos que lidar com a perspectiva de incidentes que, Graças a Deus, hoje, só fazem parte do rol daquilo em que sequer queremos pensar.
Os comentários acima não representam a opinião do Site da Segurança; a responsabilidade é do autor da mensagem.